domingo, junho 11, 2006

 

NCLIS - para aconselhar as políticas



A U.S. National Commission on Libraries and Information Science (NCLIS) é uma agência do governo federal dos Estados Unidos que tem a missão de aconselhar o Presidente e o Congresso nas políticas nacionais e internacionais no que diz respeito às bibliotecas e informação. Tem também o papel de avaliar a adequação e as deficiências dos recursos e dos serviços das bibliotecas e de informação, e ainda desenvolver planos gerais para satisfazer as necessidades nacionais em termos de bibliotecas e informação.

Criada em 1970, esta organização tem fornecido orientação e desenvolvido actividades diversas, por exemplo autorizando estudos, desenvolvendo investigação e levantando dados estatísticos, fazendo auditorias.

Muitas das iniciativas da NCLIS estão associadas à produção de estatísticas sobre as bibliotecas. No entanto dividem-se em certos campos específicos, como por exemplo os serviços das bibliotecas para idosos, o sucesso educativo, ou o papel das bibliotecas na promoção da saúde.
Os seus estudos estão disponíveis no respectivo sítio na Internet. Veja-se por exemplo um, muito simples, com dados estatísticos genéricos das bibliotecas americanas (http://www.nclis.gov/statsurv/summarystats.pdf ).

Pode-se a partir daqui reflectir sobre o que se passa em Portugal neste campo, e tentar compreender o quanto poderíamos beneficiar de uma instituição deste tipo. Efectivamente as estatísticas sobre as bibliotecas portuguesas estão dispersas e são genericamente pouco fiáveis, como tem sido repetidamente afirmado por diversos investigadores.

E parece senso comum que o governo português, o presidente da república e os responsáveis políticos aos mais diversos níveis só teriam a ganhar, e teriam certamente mais possibilidades de acertar nas suas políticas, se as baseassem em estudos regulares feitos com bases científicas.

quinta-feira, junho 08, 2006

 

Director da BPE nos Estados Unidos

A convite do Governo americano, José António Calixto, director da Biblioteca Pública de Évora, está desde o dia 7 de Junho nos Estados Unidos da América, cumprindo uma visita profissional e de formação, que o levará a visitar ao longo das próximas três semanas algumas das mais importantes bibliotecas e universidades americanas, e ainda a influente American Library Association.

Esta visita integra o International Visitor Leadership Program, e nela participam vinte e três profissionais de bibliotecas de todo o mundo que visitarão diversas instituições em Washington, Nova Iorque, Seattle, Portland, Nova Orleães e Chicago.

Um relato pormenorizado desta visita, incluindo algumas fotografias, será disponibilizado regularmente no blogue Intencidade, da Biblioteca Pública de Évora.

quarta-feira, março 08, 2006

 

Dia Internacional da Mulher

As mulheres (e também os homens) que trabalham na Biblioteca Pública de Évora enviam saudações especiais por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
Preparámos especialmente para si um postal evocativo desta data e convidamos todas e todos a vê-lo no nosso sítio na Internet em http://www.evora.net/bpe/
Lembramos nesta data todas as mulheres que nosso mundo são ainda fortemente discriminadas nos seus direitos, vítimas de abusos inimagináveis, e perseguidas pelo simples facto de serem mulheres.

Aproveitamos também esta data para relembrar o "Manifesto da UNESCO sobre Bibliotecas Públicas", que aponta o papel que as bibliotecas públicas têm em todo o mundo no combate a todos os tipos de discriminação, incluindo a sexual.
A liberdade, a prosperidade e o progresso da sociedade e dos indivíduos são valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos estiverem na posse das informações que lhes permitam exercer os seus direitos democráticos e ter um papel activo na sociedade. A participação constructiva e o desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação satisfatória como de um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao pensamento, à cultura e à informação.
A biblioteca pública - porta de acesso local ao conhecimento - fornece as condições básicas para uma aprendizagem contínua, para uma tomada de decisão independente e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais.
Este Manifesto proclama a confiança que a UNESCO deposita na Biblioteca Pública, enquanto força viva para a educação, cultura e informação, e como agente essencial para a promoção da paz e do bem-estar espiritual nas mentes dos homens e mulheres.

sexta-feira, abril 22, 2005

 

As minhas palavras-chave II

A um ti que eu inventei

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-lo em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar de grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.

António Gedeão, Máquina de Fogo, 1961

 

As minhas palavras-chave - I

Homem
Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
nem cinzéis, nem acordes, nem pincéis
são gargantas deste grito.
Universo em expansão
Pincelada de zarcão
desde mais infinito a menos infinito.

António Gedeão, Movimento Perpétuo, 1956

 

As palavras-chave

Todos temos as nossas palavras-chave.
As palavras-chave abrem-nos as portas do conhecimento do mundo e de nós próprios.
As palavras-chave foram escritas pelos poetas para dar voz às paixões que nos assaltam.
As palavras-chave deram forma à nossa representação do mundo, construíram a nossa consciência social, fizeram-nos de esquerda ou de direita, crentes ou agnósticos.
As palavras-chave transportam-nos a mundos imaginados, sugerem-nos possibilidades, inspiram-nos para nos ultrapassarmos a nós próprios.
As palavras-chave enchem-nos de felicidade, são bálsamo para as nossas angústias, dão-nos esperança e alento para continuar em momentos difíceis.
As palavras-chave fazem-nos sentir que não estamos sós no mundo.

Todos temos as nossas palavras-chave.

O desafio que a Biblioteca Pública de Évora lhe propõe é que partilhe com outros as suas palavras-chave.
Seleccione um dos seus textos preferidos, e, em dez minutos, explique-nos em que circunstâncias ele veio ao seu encontro, porque foi ou é importante para si, e leia-nos um excerto.
Participe na Maratona de Leitura com que vamos comemorar o Dia Mundial do Livro, no próximo dia 23 de Abril, entre as 11.00 e as 18.00 horas.
Inscreva-se na BPE, através de um dos nossos números de telefone, por fax, por email, ou no formulário disponível no nosso sítio na Internet. Diga-nos qual é a hora que mais lhe convém.

Comemore o Dia Mundial do Livro!

segunda-feira, abril 11, 2005

 

Abril

Aqui na BPE o mês de Abril tem sido pouco menos que frenético.
Começámos por assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil. O 2 de Abril tinha este ano o especial aliciante de coincidir com as comemorações dos duzentos anos de Andersen. Foi comemorado em Évora com diversas actividades organizadas pela Universidade, pela Câmara Municipal e pela Biblioteca Pública, com a colaboração das livrarias da cidade.
Aqui na BPE, o PIM Teatro estreou e tem estado em cena, com êxito assinalável o espectáculo "O Bicho Papa-Livros - Memórias de um Animal Intelectual".

terça-feira, março 22, 2005

 

Dia Mundial da Poesia III


Casimiro de Brito

Fragmentos do “Livro das Quedas”


1

Um homem
vai no seu corpo
e subitamente
cai. Ouço
desmoronar-se
a sílica do coração.
E ouço também
a terra e o ar
acolherem os ossos
do filho pródigo.
Em si este acontecimento
não é nada original
mas dói. O vento
do Outono
morde-me os ossos
e dói.


201

Quem amou ainda ama,
vai ouvir a vida inteira a canção furtiva,
vai ouvi-la e cantá-la
ao acaso dos ventos que trazem
do Ocidente e do Oriente
árvores e respirações animais
que supuram a febre do mundo — quem amou
ainda ama, vai cantar
a vida inteira
o ninho de mulheres onde se reúnem
a terra e o céu, vai aceitar
o domínio das águas sedentas
sobre o osso e a pedra: o grande ofício
é transformar a terra em osso
e o osso em carne
desamparada. Quem amou
não sabe nada, vai cair
a vida inteira. Mas que força é essa, se não é
um saber? Um saber de bocas invisíveis
e do enigma das águas que são álcool
da carne e pássaro que regressa
ao ninho da mãe. Quem amou
vai amar
a vida inteira.



415

Esta coisa a que chamam amor
é uma criança que salta onde sou velho,
eu que venho de milénios viajando
de reino em reino. Pó
intenso.
Salto e danço e sou contaminado
por águas montanhosas que mantêm para sempre
o rio febril. As árvores, na margem,
dobram-se à sua passagem.
Posso chamar-lhe amor,
pensar na luz crua do nascimento ou simplesmente
nascer de novo sem desejar
coisa nenhuma. Pensar é exercício de palavras
e há momentos em que só o silêncio
ou o sexo no sexo
ou um grito
dizem o que há para dizer.

Heraclito. Platão.

 

Dia Mundial da Poesia II


António Osório



Peso do mundo


A poesia não é, nunca foi
uma enumeração ou composto
de exuberância, bondade,
altitude, nem arado
ou dádiva sobre chão
prenhe de mortos.

Nem o arrependimento
de Deus por ter criado o homem
com o rosto da sua memória,
ao lado dos seus vermes.

Tão-pouco fôlego dos que amam
abrindo a porta límpida
do corpo e chovendo sobre a terra,
ou carregam como tartarugas
o peso do mundo.

Nem reverência por um tigre,
pela leveza maligna de todas as patas,
pela sonolência junto à estirpe
aprisionada também
na dureza de ser tigre.


É o milagre de uma arma
total, de uma só palavra
reduzindo o átomo à completa inocência.


(A Ignorância da Morte)



Estrela



A Joaquim Manuel Magalhães

Estrela ontem morta de parto,
a mais paciente e pródiga, tanto
que esperou por deixar um filho reproduzindo
a malha branca no negrume da cabeça,
claro sinal de estrela, nome merecido.

Não passarei mais a mão
por teus quadris, por essa pele,
um brocado antiquíssimo hindu,
com o afecto que um homem deve ter
por aquilo que o transcende em dádiva
irrestrita, em bondade e silêncio.

Teu filho procura beber nas minhas mãos,
lambe, investe-me tocando com os cornos
ainda dentro de si, germinantes.
Amo que procure em mim
o seu instinto — essa coisa única sagrada
dos homens — o teu úbere, os pequenos tetos
(apenas eles não formosos) que veia
poderosa, como pulso, alimentava.

Não te ouvirei mais ruminar,
tua forma de prece, olhando-me, grata,
distante, aquecendo-me no Inverno,
fazendo-me sonhar em minha mãe,
como um camponês sua fortuna, temendo que morresses.

(O Lugar do Amor)




Sócrates


…seria mais seguro para mim não partir sem
primeiro me ter libertado deste escrúpulo, compondo
poemas e obedecendo ao sonho.

Platão, Fédon

a Ángel Crespo


Entrei na morada que me competia.
Entre seres sociáveis e pacíficos:
pertenço, como desejei, a um núcleo
de abelhas. Retomarei a antiga
forma, talvez dê origem a um homem
temperante. Vi a parte ínfima
do Tártaro; lobos e abutres
infindamente em pedras desertas.
Breve nelas estarão os onze
magistrados dos Atenienses.
No fim da vida compus poemas
e com aquela beberagem libei a Apolo.
Ainda o não contemplei. Sem repugnância
ousei crer na subterrânea vida.
Platão, não falaste da entrada nas plantas
da alma humana: ai se acolhem,
purificados, os mais valorosos
e ainda as nuvens decorrentes
(por isso parecem dissolúveis
nas árvores emergentes da floresta).

Abelha, prossigo na mesma curiosidade:
indago a natureza do pólen,
partilho como obreiro do que germina
e perfuma e frutifica
por obediência a um mandato solar,
sou insaciável de seiva, copulo
equânime cada flor,
componho doçura não oprimente.
Nunca usarei este aguilhão
cuja utilidade agasta e maldigo.
Lembrai-vos do galo
que todos devemos a Asclépio
e do guarda que me deu a taça
que bebi sem enfado, da sua generosidade
vertendo por mim lágrimas.
Dizei-lhe que me orgulho da minha morte.
Confio em que alguém ainda me exceda,
os mártires sejam inumeráveis
a ponto de transformarem o mundo, e eu possa,
transmigrando, obedecer de novo ao sonho.

(Décima Aurora)

terça-feira, março 15, 2005

 

Dia Mundial da Poesia I


Ana Hatherly

As lágrimas do poeta

Um poeta barroco disse
as palavras são
as línguas dos olhos


Mas o que é um poema
senão
um telescópio do desejo
fixado pela língua?


O voo sinuoso das aves
as altas ondas do mar
a calmaria do vento:
Tudo
tudo cabe dentro das palavras
e o poeta que vê
chora lágrimas de tinta.



Príncipe

Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
E na escuridão da tua casa tu vieste abrir
E não me conheceste.
Era de noite
São mil e umas
As noites em que bato à tua porta
E tu vens abrir
E não me reconheces
Porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
Quando eu bati à tua porta
E tu vieste abrir
Os teus olhos de repente
Viram-me
Pela primeira vez
Como sempre de cada vez é a primeira
A derradeira
Instância do momento de eu surgir
E tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
E tu vieste abrir
E viste-me
Como um náufrago sussurrando qualquer coisa
Que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
E por isso
Tu soubeste que era eu
E vieste abrir-te
Na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
E de súbito
Tudo era apenas lábios pálpebras
Intumescências cobrindo o corpo de flutuantes
Volteios de palpitações trémulas adejando
Pelo rosto beijava os teus olhos por dentro
Beijava os teus olhos pensados
Beijava-te pensando
E estendia a mão
Sobre o meu pensamento corria para ti
Minha praia jamais alcançada
Impossibilidade desejada
De apenas poder pensar-te


São mil e umas
As noites em que não bato à tua porta
E vens abrir-me




As Palavras Aproximam

As palavras aproximam:
Prendem-soltam
São montanhas de espuma
Que se faz-desfaz
Na areia da fala


Soltam freios
Abrem clareiras no medo
Fazem pausa na aflição


Ou então não:

Matam
Afogam
Separam definitivamente


Amando muito muito
Ficamos sem palavras

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